Porque Jesus disse que não era bom?

Há uma passagem do Evangelho que sempre me intrigou e talvez também cause estranheza em você:

“E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus.” (Mateus 19:16-17)

Como assim? Jesus não era bom? Por que Ele se recusou a aceitar esse título diante do jovem rico?

Afinal, Jesus nunca pecou, nunca falhou, nunca enganou. Então, por que Ele disse algo tão forte?


O que Jesus queria ensinar?

Ao longo do tempo, estudando a Bíblia, percebi que Jesus não estava negando sua santidade ou sua pureza, mas estava ensinando uma lição profunda que muitos ignoram: Ninguém pode ser chamado de bom antes de terminar a sua obra.

Observe como funciona na criação: Em Gênesis 1, sempre que Deus concluía uma parte da obra, Ele olhava e dizia: “E viu Deus que era bom.”

Primeiro a obra era concluída, depois avaliada como boa.

Jesus ainda estava no meio da sua missão. A cruz ainda estava diante d’Ele. A ressurreição ainda não havia acontecido. A redenção ainda não havia sido consumada. Ele sabia que o projeto do Pai era grande e que só após concluir sua obra poderia afirmar que tudo estava, de fato, “bom”.

Essa resposta também expunha o coração do jovem rico. Ele se via como alguém bom porque guardava mandamentos, mas Jesus foi direto: Guardar mandamentos não justifica ninguém diante de Deus. O orgulho e a autossuficiência são pecados sutis que afastam muito mais do que aparentes falhas visíveis.


Bondade não é intenção, é resultado

Nós temos a tendência de avaliar bondade pelo que vemos no momento. Chamamos alguém de “boa pessoa” porque é educada, ajuda os outros, não se mete em confusão. Mas Jesus aponta para algo mais profundo: O que determina se uma obra é boa não é o começo, mas o fim.

Um atleta não é lembrado por iniciar uma maratona, mas por cruzar a linha de chegada.

Um agricultor não é reconhecido pela semente que jogou na terra, mas pelo fruto colhido ao final da estação.

Da mesma forma, um cristão não é avaliado apenas pelo que começou, mas pelo que perseverou até o fim.

E isso toca diretamente nossa vida espiritual e também nossas finanças. Quantos começam um projeto cheio de entusiasmo, mas param no meio? Quantos iniciam uma vida de fidelidade a Deus, mas recuam diante das pressões? Quantos têm sonhos de abençoar outros, mas enterram seus talentos pelo medo?


A parábola dos talentos e o servo bom e fiel

Jesus mesmo ilustrou esse princípio na parábola dos talentos (Mateus 25:14-30).

O Senhor confiou talentos a cada servo e, depois de um tempo, voltou para pedir contas.

Os que multiplicaram o que receberam ouviram: “Muito bem, servo bom e fiel.”

O que enterrou o talento, por medo e negligência, foi chamado de “servo mau e preguiçoso.”

Note que o título de “bom” só veio após a obra concluída. Foi o resultado que definiu a aprovação, e não apenas a intenção inicial.


E nós?

Essa pergunta precisa ecoar no nosso coração: Aos olhos de Deus, temos sido bons servos?

  1. Não basta começar bem. É necessário perseverar.
  2. Não basta ter boas intenções. É preciso frutos.
  3. Não basta guardar mandamentos por fora. É preciso humildade por dentro.

A bondade que Deus valoriza não é performance social, mas fidelidade em cumprir o chamado que Ele nos confiou.


Aplicação para hoje


Na vida espiritual:

Não se apoie em obras ou rituais externos para se sentir “bom”. O que agrada a Deus é um coração quebrantado e perseverante.

Não confie em comparações com os outros. O jovem rico achava-se melhor, mas faltava-lhe entregar tudo.


Na vida prática:

Não abandone projetos no meio do caminho. Termine a obra que Deus te confiou.

Seja fiel no que já recebeu antes de pedir mais.


Na vida financeira:

Deus não chama de “bom” quem apenas promete, mas quem administra com fidelidade o que já possui.

O servo bom é aquele que não enterra o talento (dinheiro, dons, oportunidades), mas multiplica para a glória de Deus.

O bom administrador não é o que parece rico, mas o que é fiel no pouco e justo em suas decisões.


Conclusão

Quando Jesus disse “Por que me chamas bom?”, Ele nos deixou um alerta: Não basta começar, é preciso terminar.

A verdadeira bondade é provada no resultado final.

Jesus, após consumar a obra na cruz, pôde declarar: “Está consumado.” E ali sim, toda a obra foi considerada boa diante de Deus, porque trouxe redenção a toda a humanidade.

E você? Será que está apenas no meio do caminho, ou tem perseverado para que ao final o Senhor diga: “Muito bem, servo bom e fiel! Entra no gozo do teu Senhor.”

Ainda há tempo de concluir sua obra. Ainda há tempo de multiplicar o talento que está em suas mãos.

2 Comentários

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  1. A paz do senhor Jesus gostei do seu raciocínio porém me surgiu uma dúvida dentro da sua lógica.. se Jesus não quis ser chamado de bom por conta q não tinha terminado a obra porq então q ele disse Eu sou o bom pastor.. ali ele se denomina bom

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    1. Boa pergunta! Em Mateus 19, quando o jovem rico chama Jesus de “bom”, Ele responde que só Deus é bom porque queria quebrar o orgulho daquele rapaz, que achava ser justo por suas próprias obras. Já em João 10, quando Jesus diz “Eu sou o Bom Pastor”, Ele não está falando de bondade humana, mas revelando sua identidade divina e sua missão de dar a vida pelas ovelhas, cumprindo o plano de Deus. Ou seja: numa passagem, Ele mostra que ninguém pode se declarar bom diante de Deus; na outra, Ele afirma que só Ele é o Pastor perfeito, porque entrega a vida em sacrifício por nós.

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